Watts A.W.
O
Budismo Zem
Primeira Parte – Fundamentos e História
pg
49
A
civilização chinesa
contava já, pelo menos, dois mil anos, quando encontrou o
Budismo pela primeira
vez. A nova filosofia entrou pois numa cultura solidamente
estabelecida, na
qual dificilmente viria a ser aceita sem importantes
adaptações à mentalidade
chinesa, embora existissem algumas semelhanças entre o
Taoismo e
o Budismo, tão
fortes (as
semelhanças!) que
têm levantado
especulações sobre se não teria havido
contatos
entre ambos muito mais cedo que
se supõe. A
China absorveu
o Budismo tal
como tem absorvido tantas outras influências externas
–
não só filosóficas e
idéias, mas também
populações alheias e
invasores. Sem dúvida que
tal se
deve à extraordinária estabilidade e maturidade
que os
chineses
colheram do
Confucionismo.
Razoável, não fanático, humanista, o Confucionismo
é
um dos mais maleáveis padrões de
convenção
social que o mundo tem conhecido.
Reunido à atitude
“deixar ficar o que
está suficientemente bem”
do Taoismo, alimentou um
tipo de mentalidade
suave e assaz condescendente que, quando absorveu
o Budismo, fez muito para
o tornar mais
‘prático
‘. Significa isto, que fez do
Budismo um caminho de vida
possível para seres humanos, para gente com
família, com
seu trabalho de cada
dia, e dotada de instintos e paixões normais.
Pg.50
Era princípio
básico do
Confucionismo que “é
o homem que torna a
verdade grande, não a verdade que torna o homem grande”,
razão pela qual o
“humanitarismo” ou “cordialidade
humana” (jen)
foi sempre considerado superior
à “retidão” (i),
dado que o
próprio
homem é maior que qualquer idéia que possa
inventar Alturas
há em que as
paixões dos homens são muito mais dignas de
confiança que os seus princípios.
Dado que os
princípios, ou ideologias,
opostos são irreconciliáveis, as guerras travadas
com
base no princípio são
guerras de aniquilação mútua. Mas as
guerras
travadas por simples ambição são
muito menos destrutivas, pois o agressor terá o cuidado de
não destruir aquilo
que luta para conquistar. Homens
razoáveis – isto é, humanos –
serão
sempre capazes de
aceitar um compromisso; mas os homens que se desumanizaram ao
tornarem-se
adoradores de uma idéia ou ideal, são
fanáticos
cuja devoção por abstrações
os
tornam inimigos da vida.
Modificado por tais
atitudes, o Budismo do Extremo Oriente é muito mais
agradável e “de acordo com
a natureza” que os seus similares da Índia e do
Tibet,
cujos ideais de vida
parecem ser por vezes sobre-humanos, mais próprios de anjos
que
de homens. Mas ainda assim, todas as formas
de Budismo
se dirigem para o Meio Caminho entre
os extremos do anjo (deva)
e do demônio (preta),
do ascético e
do sensualista, e afirmam
que o supremo
“acordar” ou estado de Buda só pode ser
atingido a
partir do estado humano.
Algumas
sérias dificuldades se nos
deparam ao
pretendermos fazer um relato historicamente preciso do Budismo Indiano,
bem
como de toda tradição filosófica de
onde surgiu...
antes de
tentarmos descrever o Budismo
indiano, devem
ser mencionadas algumas dessas dificuldades.
A primeira e a mais
séria de todas, reside
no problema de interpretar os textos
em Sâncristo e Pali, nos quais se preserva a antiga lenda
indiana. É isso
particularmente
A segunda é ser
extremamente difícil descobrir qual foi a forma
original do Budismo.
Há dois conjuntos de escrituras Budistas: o Cânone
Pali de
Theravada
ou Escola Budista do Sul, que floresce no Ceilão, em Burma e
na
Tailândia, e o
Cânone Sâncristo-Tibetano-Chinês de
Mahayana, ou
Escola do Norte. Segundo o
Geral consenso dos eruditos, O Cânone Pali é,
geralmente
falando, o mais antigo
dos dois, e os sutras
(assim são
chamados os textos sagrados do ano 100 A.C.). Contudo, a forma
literária do
Cânone Pali não sugere que ele represente as
próprias palavras de Gautama o
Buda. Se os Upanichades
são
característicos do estilo de discurso de um mestre indiano
entre
os anos 800 e
300 A.C., apresentam pouca semelhança com o repetitivo e
enfadonho .. e
escolástico da maioria das escrituras Budistas... Tal como
sucede com os ícones
russos, a pintura original já quase se perdeu de vista sob a
camada de
pedrarias e oiro que a cobrem.
A terceira é nunca
a tradição hindu-budista ter possuído
o
sentido histórico da tradição hebraico
cristã, de modo que
O perigo da
erudição reside
sempre em que,
na especialização
extrema, pode não ser capaz de ver a floresta por causa das
árvores. Mas
o problema de alcançar uma idéia do que era o
pensamento
indiano no tempo do
Buda, seis séculos antes de Cristo, não
poderá ser
solucionado apenas através
de um cuidadoso trabalho de reconstituição
– por
muito necessário que este
seja. Há, no entanto, suficiente
informação de
confiança, a sugerir a grandiosa
e belamente ordenada forma do Hinduismo Upanichádico, se o
não lermos com o
nariz em cima das folhas.
Fundamental para a vida e o
pensamento da Índia, desde os mais antigos tempos,
é o
grande tema mitológico
da atma-yajna
– o
ato de auto
sacrifício pelo qual Deus dá origem ao mundo, e
pelo qual
os homens, seguindo o modelo divino, se reintegram em Deus.
O ato pelo qual
o mundo é criado é o mesmo
pelo qual é consumado – a entrega da
própria vida
– como se todo o
processo
do universo fosse o tipo de jogo em que é
necessário
passar a bola a outro
assim que é recebida.
O mito básico
do Hinduismo é pois que o mundo é Deus brincando
às escondidas consigo próprio.
Como Prajapati, Visnu ou Brâmane, o Senhor, sob
muitos nomes, cria o mundo através de um ato de
auto-desmembramento ou auto-esquecimento,
através do
qual o Um
se torna Muitos, e o único ator
representa inúmeros papéis.
No final, chega de
novo a si próprio mas
para recomeçar,
Pg.53
uma vez mais o drama
– o
Um morrendo em Muitos, e os Muitos morrendo em UM.
Por toda a parte ocupa a terra, enche um espaço largo de dez
dedos.
É Purucha tudo o que tem sido, tudo o que virá a
ser;
Senhor da imortalidade que se acrescenta ainda pelo alimento.
Quão poderosa é sua grandeza; maior ainda
é, na
verdade, Purucha.
Todas as criaturas são a quarta parte dele, três
quartos a
vida eterna
nos céus...
Quando os Deuses preparam o sacrifício tendo purucha como
sua
oferenda,
O óleo foi a primavera, a dádiva sagrada o
outono; a
madeira era o
verão.
Daquele grande sacrifício geral foi recolhida a escorrente
gordura.
Ela formou as criaturas do ar, e os animais, bravios ou domados...
Que chamam á sua boca e braços? Que chamam
às suas
coxas e pés?
A casta Brâmane era a sua boca, dos seus dois
braços foi
feita Rajanya,
a casta Kchatriya
As suas coxas fizeram-se Vaichya, de seus pés foi produzido
o
Chudra.
A lua foi gerada da sua mente e o sol nascido dos seus olhos;
Indra e Agni nasceram da sua boca, e Vayu do seu sopro.
Do seu umbigo brotou o ar intermédio; da sua
cabeça foi
construído o
céu;
Terra dos seus pés, e de sua orelha as regiões.
Assim
formaram eles os
mundos.(1)
(1)
Rigveda...
Purucha é “a
Pessoa”, isto é, a consciência original
por
trás do mundo.
No princípio este
mundo era Atman
(o Ser), solitário na forma de
Purucha. Olhando em redor nada mais viu além de si
próprio.
Primeiro disse, “Eu
sou”. Daí veio a palavra
“Eu”. Por isso ainda hoje, quando alguém
é
interpelado, preimeiro responde
simplesmente, “Sou eu”, e diz depois o nome que
tiver.
Em toda a parte Aquilo tem
mãos e pés;
Em
toda a parte olhos,
cabeças e rostos;
Em
toda a parte do mundo
ouve;
E
todas as coisas abarca.
A filosofia Hindu
não
cometeu o erro de imaginar que se pode fazer uma
exposição informativa, fatual
e positiva, sobre a suprema realidade...
Qualquer
declaração positiva
acerca de coisas supremas deve ser feita sob a sugestiva forma de mito,
de
poesia, pois neste domínio a forma de discurso direta e
indicativa apenas pode
dize, “neti,
neti”
(“não,
não”),
posto que aquilo que pode ser descrito e categorizado pertence sempre,
forçosamente, ao domínio convencional.
A mitologia Hindu elabora o
tema do drama divino numa escala fabulosa, compreendendo não
só colossais
efeitos de tempo e de espaço, mas também os
últimos extremos do prazer e da
dor, de virtude e depravação. O íntimo
Ser do
santo e do sábio é tanto o Velado
Rosto de Deus como o íntimo Ser do debochado, do covarde, do
lunático, dos
próprios demônios. Os opostos (dvandra)
de luz e escuridão são elementos essenciais do
jogo, pois
embora o rosto de
Deus se identifique com Verdade (sat),
Consciência (chit),
e Bem-aventurança
(ananda),
o lado escuro da vida tem sua
parte integrante no jogo tal como qualquer drama deve ter seu
vilão para
despedaçar o status
quo, tal como as
cartas devem ser baralhadas, lançadas no caos, a fim de que
se
processe um
evolução significativa no jogo. Para o
pensamento Hindu não existe o problema do Mal. O
Mundo
convencional e
relativo é, necessariamente, um mundo de opostos. Afastada
da
escuridão, a luz
é inconcebível; a ordem não tem
sentido sem a
desordem; e, do mesmo modo, alto
sem baixo, som sem silêncio, prazer sem dor.
O mito que atrás descrevemos
não
é a
expressão de uma filosofia formal, mas de uma
experiência (pessoal
intransferível) ou
estado
de consciência,
chamado mokcha
ou
“libertação”. No conjunto,
é
mais seguro dizermos que a filosofia indiana é,
primeiramente,
esta experiência;
só muito mais secundariamente é ela um sistema de
idéias que tenta traduzir a
experiência para linguagem convencional. Assim, basicamente,
a
filosofia só se
torna inteligível ao compartilhar a experiência
que
consiste no mesmo tipo de
conhecimento não convencional, encontrado no Taoismo.
É
também chamado atma-jnana
(auto conhecimento)
ou atma-bodha
(auto despertar), visto que pode ser
considerada como a descoberta de quem, ou o que eu sou, quando
já não me
identifico com qualquer função ou
definição
convencional de pessoa. A
filosofia indiana não descreve o conteúdo desta
descoberta senão em termos
mitológicos, usando a frase “Eu sou
Brâmane” (aham
brahman) ou “Aquilo
tu és” (tat
tvam asi) para sugerir que o
auto-conhecimento
é uma
compreensão da identidade original com Deus.
Mas
isso não implica o que “proclamando-se
Deus”
significa um contexto hebraico
cristão, onde a linguagem mítica geralmente se
confunde
com a linguagem factual
pelo que não existe uma distinção
clara entre
Deus, tal como é descrito em
termos de pensamento convencional, e Deus tal como ele é na
realidade...
Além disso,
embora se diga que
Brâmane se “conhece”
a si próprio, este conhecimento não é
produto de
informação, um conhecimento
como o que se tem de objetos, distintos de um sujeito. Segundo as
palavras de
Shankara,
Pois ele é o
conhecedor, e o conhecedor pode apenas conhecer outras coisas, mas
não pode
tornar-se Ele próprio objeto do Seu pessoal conhecimento,
tal
como o fogo pode
queimar outras coisas mas não pode queimar-se a si
próprio.(nota de rodapé
4)... a luz não necessita brilhar sobre si
própria pois
já é luminosa, também
não vantagem ou sentido em Brâmane ser objeto de
seu
próprio conhecimento.
Para a mentalidade ocidental
o quebra-cabeças da filosofia indiana reside em ter ela
tanto a
dizer sobre o
que
a experiência do mokcha
não é, e pouco ou nada, sobre o
que ela é. Isto é naturalmente desorientador,
pois que se
a experiência não têm
realmente conteúdo, ou se é tão falha
de
relações com as coisas que
consideramos importantes, como se poderá explicar a imensa
estima em que é tida
no esquema de vida indiano?
Mesmo ao nível
convencional,
por certo que é fácil compreender que o
conhecimento de
que “não é assim”,
Pg.58
resulta muitas vezes
tão importante
como saber o que
é... a função do conhecimento negativo
não
deixa de ter parecências com as
utilizações do espaço – a
página
vazia sobre a qual se podem escrever palavras,
o recipiente vazio onde se pode deitar líquido, a janela
vazia
através da qual
pode entrar a luz, e o tubo vazio através do qual a
água
pode correr. Obviamente,
o valor do vazio repousa nos
movimentos que permite ou na substância que delimita e
contém. Mas o vazio deve
existir primeiro. É
por isso que a filosofia indiana se
concentra na
negação, em libertar a mente dos conceitos de
Verdade....
Tal como os Hebreus
não permitiam que se fizesse uma imagem de Deus na madeira
ou na
pedra,
os Hindus não
admitem uma
imagem do
pensamento – a não ser uma tão
obviamente
mitológica que não possa ser tomada
pela realidade.
Deste modo, a disciplina prática (sadhana)
do caminho de libertação é um
progressivo desembaraçar o Próprio Ser (atman)
de cada um, de qualquer identificação.
É
compreender que não sou esse corpo,
estas sensações, estes sentimentos, estes
pensamentos,
esta consciência. A
realidade básica da minha vida não é
objeto
concebível algum. Fundamentalmente,
nem mesmo deve ser identificado com qualquer idéia, como
sejam
Deus ou atman....
O atman
é para nossa consciência
total o
que a cabeça é para o sentido da vista
– nem luz
nem escuridão, nem
Pg.59
cheio nem vazio, apenas um
inconcebível para além.
No momento que as últimas
identificações do
Próprio Ser com qualquer objeto ou
conceito cessaram, no estado a que se chama nirvikalpa
ou “sem concepção”, brota das
suas
desconhecidas profundidades o estado de
consciência a que se chama divino, o conhecimento do
Brâmane.
Traduzido
para linguagem convencional e – devemos repeti-lo –
mito-poética, o
conhecimento de Brâmane é representado como a
descoberta
de que este mundo, que
parecia ser Muitos, é na verdade Um, que “tudo
é
Brâmane” e que “toda a
dualidade é falsamente imaginada”...
Mokcha
é também entendido como
libertação de maya
– uma das mais importantes palavras na filosofia indiana,
tanto
Hindu como
Budista, pois o múltiplo mundo dos fatos e acontecimentos
é considerado como
sendo maya,
geralmente entendido como
uma ilusão que oculta a única e subjacente
realidade de Brâmane.
Dá-nos
isso a impressão de que mokcha é
um estado de consciência em que todo o
variado mundo da natureza desaparece do campo da visão
fundido
num oceano, sem
margens, de espaço vagamente luminoso. Uma tal
impressão
deverá ser
imediatamente recusada, pois implica uma dualidade, uma
incompatibilidade entre
Brâmane e Maya,
o que vem contra o
princípio da filosofia Upanichádica. Porque
Brâmane
nãoé Um como
oposto a Muitos. Não
é simples em oposição
ao
complexo. Brâmane é sem
dualidade (advaita),
ou seja, sem
qualquer oposto, dado que Brâmane não
está em
qualquer classe ou, o mesmo é
dize-lo, fora de qualquer classe.
Ora,
a classificação é precisamente maya.
A palavra deriva da raiz Sânscrita matr-, “medir,
formar,
construir ou
Portanto,
dizer que o mundo dos fatos e acontecimentos é maya
significa que os fatos e acontecimentos são antes termos de
medida que realidades da natureza. Devemos, contudo, expandir o
conceito de
medida até a inclusão do estabelecimento de
limites de
qualquer espécie, quer
pela classificação descritiva quer pelo
enquadramento
seletivo. Ser-nos-á assim
mais fácil ver que os fatos e acontecimentos são
tão abstratos como linhas de
latitude, ou como decímetros e centímetros. Considere-se por um momento que
é
impossível
isolar, por si só, um único fato. Os fatos
vêem,
pelo menos, aos pares, pois
que um único corpo é inconcebível se o
separarmos
do espaço que ocupa.
Definição, estabelecimento de limites,
delineamento
– são estes sempre atos de
divisão e portanto dualidade, dado que assim que um limite
é definido logo
apresenta dois lados.
Este
ponto de vista é um tanto assustador, e mesmo bastante
difícil de compreender,
para aqueles de há muito habituados a pensar que coisas,
fatos e
acontecimentos, são os próprios blocos
constituintes do
mundo, a mais sólida
das sólidas realidades. Contudo, uma compreensão
capaz da
doutrina maya
é um dos mais essenciais
requisitos
prévios para estudo do Hinduísmo e do Budismo. E
ao
tentar apreender seu
significado deverão ser postas de lado as várias
filosofias “idealistas” do
Ocidente com que tantas vezes é confundida – mesmo
pelos
modernos Vedantistas
Indianos. Porque o mundo não é uma
ilusão da mente
no sentido de – aos olhos do
homem libertado (juvanmukta)
– nada
se senão um vácuo sem caminhos. Ele vê
o mundo que
nós vemos; mas não o marca,
não o mede, não o divide do mesmo modo.
Não o
encara como real ou concretamente
Portanto
o seu ponto de vista não é monístico.
Ele
não pensa que todas as coisas são na
realidade Uma porque, concretamente falando, nunca houve quaisquer
“coisas”
para serem consideradas Uma. Unir é tanto maya
como separar. Por esta razão, tanto os Hindus como os
Budistas
preferem falar
da realidade “não-dual” do que como
“uma”, dado que o conceito de um estará
sempre em relação com o de muitos. A doutrina de maya
é ppois uma doutrina de relatividade.
É dizer que as coisas,
fatos e acontecimentos são delineados, não pela
natureza,
mas pela descrição
humana, e que o modo pelo qual os descrevemos (ou dividimos)
é
relativo aos
nossos variáveis pontos de vista.
...é
fácil verificar o
caráter convencional das
coisas. Regra geral, um organismo humano é encarado como uma
única coisa,
embora sob o ponto de vista fisiológico seja tantas coisas
quanto as suas
partes ou órgãos, e sob o ponto de vista
sociológico seja meramente parte de
algo muito mais vasto a que chamamos grupo.
A
filosofia indiana também considera rupa,
ou forma, como maya,
por ser
impermanente. Na verdade, quando os textos Hindus ou Budistas falam do
caráter
“vazio” ou
“ilusório” do mundo
visível da natureza – como distinto do mundo
convencional
das coisas – referem-se precisamente à
impermanência
das suas formas. Forma é
fluxo, e portanto maya,
no sentido,
um pouco mais lato, de não se poder anotar com
precisão
ou apreender. A forma é
maya
quando a mente tenta
compreende-la e controla-la nas categorias fixas do pensamento, isto
é, por
meio de nomes (nama)
e palavras, pois
tais são precisamente os substantivos e verbos por meios dos
quais as
categorias abstratas e conceituais de coisas e acontecimentos
são designadas.
Para
servir a este propósito, nomes e termos devem
necessariamente
ser fixos e
definitivos como quaisquer outras unidades de medida. Porém
o
seu emprego é –
até certo ponto – tão
satisfatório que o
homem está sempre em perigo de
confundir as suas medidas como o mundo assim medido...
É
por isso que a insistência Hindu-Budista sobre a
impermanência do mundo, não
constitui a doutrina pessimista e niilista que os críticos
ocidentais
normalmente crêem que ela seja. A transitoriedade
só
é depre
ssiva
para a mente que insiste na
tentativa de aprisionar (apreender
a realidade?).
Mas para a mente que se
deixa levar na corrente fluida da mudança, para mente que se
torna, segundo a
imagem Budista Zen, como uma bola
vogando no rio que desce o
monte, a sensação de
transitoriedade ou vazio
transforma-se numa espécie de êxtase.
Será talvez
esta a razão porque, quer no
Oriente que no Ocidente, a impermanência é tantas
vezes o
tema da mais profunda
e comovente poesia – de tal modo o espelendor da
mudança
brilha e transparece
mesmo quando o poeta mais parece ressentir-se dela.
Rasteja no seu mesquinho passo de dia para
dia
Até a última sílaba do tempo
recordado,
E todos nossos ontens alumiaram aos loucos
O caminho para o pó da morte. Apaga-te,
minúscula vela!
Que se pavoneia e desperdiça sua hora sobre
o palco
E não mais é ouvido: é uma
história
Contada por um idiota, cheia de som e fúria,
E sem sentido algum.
É
precisamente este entender a total
imprecisão do mundo, que se
encontra nas raízes do Budismo.
É essa a especial
mudança do ponto tonal
que, mais que qualquer outra coisa, distingue a doutrina do Buda dos
ensinamentos dos Upanichades,
e que constitui
a razão de ser para o crescimento do Budismo como um
movimento
distinto, na
vida e no pensamento indianos.
Porque
Gautama, o “Acordado” ou Buda (morto cerca de 545
A.C.) viveu num
tempo em que os
principais Upanichades já existiam,
e a
filosofia destes deve ser encarada como ponto de partida para seus
próprios
ensinamentos. Contudo, seria erro
muito grave considerar o Buda como
“fundador” ou “reformador” de
uma
religião nascida como qualquer forma de
revolta organizada contra o Hinduismo.
Isto porque estamos a falar
de um
tempo em que não havia consciência de
“religiões”, em que termos como
“Hinduismo” ou “Bramanismo”
nada podiam
significar. Havia apenas uma tradição,
substanciada na doutrina, transmitida oralmente, dos Vedas
e Upanichades, uma
tradição que não era
Mais
ainda, o
Buda era
perfeitamente tradicional ao
despojar-se da sua casta e ai aceitar, como discípulo,
estudantes sem casta e
sem lar, pois a tradição indiana, mais ainda que
a
chinesa, encoraja
especificamente o abandono da vida convencional a partir de certa
idade, quando
já foram cunpridos os deveres familiares e
cívicos. A
renúncia à casta é o
sinal externo e visível da compreensão de que o
verdadeiro estado de qualquer
indivíduo é “inclassificado”,
que sua
função ou pessoa é puramente
convencional, que sua verdadeira natureza é “nada
(não-algo)” e “ninguem
(não-alguem)”.
Tal
compreensão foi o ponto crucial da experiência do
Buda ao
acordar (bodhi),
de que certa noite se começou a
perceber, estava ele sentado sob a célebre Árvore
Bo em
Gava, após sete anos de
meditação nas florestas. Segundo o ponto de vista
do Zen,
esta experiência
constitui o conteúdo essencial do Budismo...Durante sete
anos
Gautama tinha
lutado, através dos meios tradicionais de ioga
e tapas,
contemplação e ascese, por
penetrar a causa da escravização do homem ao
maya, por
descobrir o meio de
escapar ao círculo vicioso de apego à vida (trichna)
que equivale a tentar fazer com que a mão se agarre a si
própria. Todos os seus
esforços tinham sido em vão. O eterno atman,
o Próprio Ser real, não fora encontrado. Por
muito que
concentrasse sobre sua
própria mente afim de encontrar a sua raiz e fundamento,
apenas
se lhe deparou
o seu
Imediatamente
sentiu que uma profunda mudança se originava nele. Sentou-se
debaixo da árvore,
jurando não se voltar a erguer até ter atingido o
supremo
acordar, e – de
acordo com a tradição – ali ficou
durante toda a
noite até que o primeiro
brilho da estrela da manhã provocou subitamente nele um
estado
de perfeita
clareza e compreensão. Tal estado era anuttara
samyak sambodi,
“inexcedível, completo acordar”,
libertação do maya
e do eterno
círculo de nascimento e morte (samsara),
que
constantemente prossegue
enquanto um homem tente, seja de que modo for, apegar-se à
sua
própria vida.
No
entanto, o conteúdo coletivo desta experiência
nunca foi,
e nunca poderia ter
sido traduzido em palavras. Porque
as
palavras são as molduras do maya,
as
malhas de sua rede, e a experiência é da
água que
passa através.
...são palavras
atribuídas ao
Buda, no Vajracchedika:
...não
obtive a mínima coisa do
inexcedível, completo
acordar, e por essa mesma razão é ele chamado de
“inexcedível completo
acordar”.
É assim
que, segundo o ponto de vista do Zen, o Buda “nunca disse uma
palavra”, apesar
dos volumes a ele atribuídos, pois sua mensagem real
manteve-se
sempre por
dizer, e era tal que, quando as palavras tentavam exprimi-la, lhe davam
o
aspecto de ser coisa alguma. No entanto é
tradição
essencial do Zen que aquilo
que não pode ser expresso em palavras, pode mesmo assim ser
transmitido pelo
“apontar diretamente”, por meio não oral
de
comunicação, sem o qual a
experiência do Buda nunca poderia ter sido transitida
às
gerações futuras.
De
acordo com a sua (provavelmente assaz recente)
tradição, o
Zen mantém que o Buda
transmitiu o acordar ao seu principal discípulo,
Mahakasyapa,
segurando uma
flor e mantendo-se silencioso.
Pg. 67
Contudo, o Cânone
Pali relata que, imediatamente após
o seu acordar, o Buda se dirigiu
ao Parque
das Corsas em Benares, e
expôs a sua doutrina aos que tinham
sido
anteriormente seus companheiros na vida ascética, sob a
forma
das Quatro
Nobres Verdades que constituem
um tão útil sumario do Budismo.
Estas
Quatro Verdades
se apresentam sob a forma
tradicional Védica do diagnóstico e
receita, dados por um
médico: a identificação
da doença e sua causa, o
juízo quanto à possibilidade de cura, e o
receitar do
remédio.
A Primeira
Verdade
refere-se à
problemática palavra duhkha,
livremente traduzida por “sofrer”, e
que designa a grande
doença do mundo, para a qual o método do Buda (dharma)
é a cura.
O desejo de um
perfeito controle do que nos circunda e de nós
próprios
baseia-se, pois, numa profunda falta de
confiança
no controlador. Avidya
é a incapacidade de
ver a auto-contradição básica desta
posição. Daí resulta um
fútil agarrar ou
controlar da vida que é pura
auto-frustração, e o
padrão de vida que daí advém
é o circulo vicioso que no Hinduismo e no Budismo, ten o
nome de
Samsara,
o Círculo de
nascimento-e-morte. (9).
O
princípio ativo do Círculo é conhecido
como karma
ou “ação condicionada”, isto
é,
ação originada num motivo e buscando um resultado
– o tipo de ação que requer sempre a
necessidade
para uma ação posterior. O
homem envolve-se no karma
quando
interfere como o mundo de tal modo que é compelido a
continuar a
interferência,
Muitos Budistas escondem o Círculo de nascimento-e-morte num sentido absolutamente literal, como um processo de reencarnação, segundo a qual o karma, que forma o indivíduo, o continua a fazer vida após vida, até que, através da visão interna e do acordar, é deixado em repouso. Mas no Zen, e noutras escolas do Mahayana, é muitas vezes encarado em sentido mais figurado, segundo o qual o processo de renascimento sucede em todos os momentos, de modo que o indivíduo está a renascer enquanto se identifica a si próprio com um ego contínuo que se reencarna de novo em cada momento do tempo....
A Terceira Nobre Verdade
diz respeito
ao acabar da auto-frustração, do agarrar, e de
todo o
padrão viciosamente
circular de karma
que gera o Círculo.
Este acabar
é chamado nirvana,
uma
palavra de tão dúbia etmologia
que uma simples tradução é
excessivamente
difícil. Tem sido ligada a várias
raízes do Sânscrito, que lhe dariam o significado
do
apagar de uma chama com um
sopro, ou simplesmente soprar (ex-piração), ou o
cessar
de vagas, remoinhos ou
círculos (vritti)
da mente.
As
duas últimas interpretações parecem
ser, no
conjunto, as que fazem melhor
sentido. Se nirvana
é
“ex-piração”,
então é o ato de
alguém que viu a
futilidade de tentar suster a respiração ou vida (prana)
indefinidamente, dado que suster a
respiração é perdê-la.
Deste modo,
nirvana é o
equivalente
de mokcha,
desprendimento ou
libertação.
Pg.72
Encarado sobre outro
aspecto, parece ser
desespero –
o reconhecimento de que a vida acaba sempre por derrotar nossos
esforços para a
controlar, que toda a luta humana nã passa de uma
mão
fantasmagórica
agarrando-se a nuvens. Visto sob outro aspecto, esse desespero
desabrocha em
alegria e poder criativo, segundo o princípio de que perder
a
vida é
encontra-la – encontrar liberdade de
ação,
não obstruída pela
auto-frustração e
pela ansiedade inerente à tentativa de conservar e controlar
o
Próprio.
Se nirvana
se
relaciona com o cessar
(nir-) de redemoinhos (vritti),
o
termo é sinônimo do objeto de ioga,
definido no Iogasutra
como citta
vritti
nirodha – o cessar
dos
remoinhos da mente. Estes remoinhos são os pensamentos
através dos quais a
mente se esforça por agarrar o mundo e a si
própria. Ioga
é a prática da tentativa de travar
estes pensamentos, pensando
acerca deles, até que a extrema futilidade do processo seja
tão vivamente
sentida que este acabe simplesmente por se perder, e a mente descubra
seu
estado natural sem confusão.
...ambas as etimologias nos
oferecem o mesmo
significado essencial. Nirvana
é o
modo de viver que se segue quando o agarrar-se à vida chega
ao
fim. Na medida
em que toda definição é um agarrar, nirvana
é necessariamente indefinível. É o
estado natural,
“não-auto-agarrado”, da
mente; e aqui, claro, a mente não tem significado
específico, posto que aquilo
que não é agarrado não é
conhecido, no
sentido convencional do conhecimento.
Entendido de modo mais popular e liberal, nirvana
é o desaparecimento do ser do círculo de
encarnações, não para um estado de
aniquilamento, mas simplesmente para um estado que escapa a qualquer
definição,
portanto incomensurável e infinito.
Alcançar
o nirvana
é também alcançar o
estado
de Buda, o acordar. Mas não se trata de um
alcançar em
qualquer sentido comum
do termo, dado que não estão incluídas
qualquer
aquisição ou motivação.
É
impossível desejar nirvana,
ou
pretender alcança-lo, pois qualquer coisa
desejável ou
concebível como objeto
de ação não é, por
definição,
nirvana.
Nirvana
só pode acontecer não
intencionalmente, espontaneamente, quando a impossibilidade do
auto-agarrar foi
completamente apreendida.
Pg.73
Um Buda, portanto,
não é um
homem com uma posição.
Não está acima como um anjo; não
está
abaixo como um demônio. Não aparece em
nenhuma das seis divisões do Círculo, e seria
errado
imagina-lo superior aos
anjos, pois a lei do Circulo é que o que sobe deve descer, e
vice-versa. Ele
transcendeu toda e qualquer dualidade, e assim nada significaria, para
ele,
encarar-se a si próprio como uma pessoa superior ou um
êxito espiritual.
A Quarta Nobre Verdade
descreve os
oitos degraus do Dharma
do Buda, isto
é, o
método ou doutrina pelo qual a
auto-frustração é aniquilada.
Cada um dos
degraus têm um nome, precedido
da palavra samyak
(Pali, samma),
que
tem o significado de
“perfeito” ou “completo”. Os
primeiros dois
degraus tem a ver com o pensamento;
os quatro seguintes com a ação; e os dois
últimos
com a contemplação ou o estar
ciente. Temos pois:
01 Samyag-drichti,
ou completa visão;
02 Samyak-samkalpa,
ou completa compreensão;
03 Samyag-vak,
ou completo (ou seja, verídico) discurso;
04 Samyak-karmana,
ou completa ação;
05 Samyagajiva,
o completa vocação;
06 Samiag-vyayama,
ou completa aplicação;
07 Samyak-smriti,
ou completo recolhimento;
08 Samiak-samadhi,
ou completa contemplação.
Sem
discutir em pormenor estas seções,
poder-se-á
simplesmente dizer que as
primeiras duas se referem a uma correta compreensão da
doutrina
e da situação
humana. De
certo modo, o primeiro
degrau, “completa visão”, contem todas
as outras,
dado que o método do Budismo
é, acima de tudo, a prática de uma clara
compreensão de ver o mundo yathabhutam
–
tal como ele é. Esta
compreensão consiste numa viva atenção
à
experiência direta, ao mundo como
imediatamente percebido, de modo a não ser iludido por nomes
e
rótulos. Samyak-Samadhi,
ultimo degrau da
escada,
é o aperfeiçoamento do primeiro, significando
pura
experiência, pura
compreensão, onde não tem já lugar o
dualismo de
conhecedor e conhecido.
Smriti,
recolhimento, e samadhi,
contemplação, constituem a
seção que trata
da vida meditativa, a prática
interior, mental, do caminho do Buda. O completo recolhimento
é
estar
constantemente ciente de, ou observando as próprias
sensações sentimentos e
pensamentos – sem propósito nem
comentário.
É uma total clareza e presença da
mente, ativamente passiva, enquanto os acontecimentos vêm e
vão como reflexos
num espelho: nada é refletido exceto o que é.
“Onde
há um objeto, aí surge o
pensamento”. Será
então o pensamento uma coisa, e o objeto outra?
Não, o
que o objeto é, é
precisamente o pensamento. Se o objeto fosse uma coisa e o pensamento
outra,
haveria então um duplo estado de pensamento. Assim, o
próprio objeto é apenas
pensamento. Poderá,
então o pensamento
examinar o pensamento? Não,
o pensamento não pode
examinar o pensamento.
Tal como uma lâmina de uma espada não se pode
cortar a si
própria, tal como a
ponta de um dedo não pode tocar em si própria,
assim
também um
pensamento não pode ver a si
próprio.
Esta não
dualidade da mente,
em que não se encontra já dividida contra si
própria, é samadhi,
e graças ao
desaparecimento da infrutífera tentativa da
mente para se agarrar a si própria, samadhi
é um estado de profunda paz. Não se trata da
quietude de
uma total inatividade
dado que, logo que a mente volta ao seu estado natural, samadhi
mantém-se em todas as alturas, “andando, parado,
sentado e
deitado”. Porém, e desde os primeiros tempos, o
Budismo
Pg.76
Meditar
sentado não é, como muitas vezes se
supõe, um
“exercício” espiritual, uma
pratica seguida com vista a um objetivo ulterior. Segundo o modo de ver
Budista,
é apenas a maneira correta de se sentar, e é
encarado
como perfeitamente
natural ficar sentado
enquanto não
houver mais nada que fazer, e desde que o indivíduo
não
esteja consumido pela
agitação nervosa. Para o irrequieto temperamento
do
ocidental, meditar sentado
pode parecer uma desagradável disciplina, pois
não somos
capazes de nos
sentarmos “só para nos sentarmos”, sem
suprimos de
consciência, sem sentirmos
que devíamos estar a fazer algo mais importante para
justificar
nossa
existência. A fim de aplacar esta irrequieta
consciência,
meditar sentado deve
pois ser encarado como um exercício, uma disciplina para um
objetivo ulterior.
Contudo, a partir desse preciso momento deixa de ser
meditação (dhyana)
no sentido Budista,
porque onde
há propósito, onde há um procurar e
tentar
alcançar resultados, não há dhyana.
A
palavra dhyana (Pali, jhana) é a forma original Sancrista do
chinês ch’an
e do japonês zen,
seu significado é pois de capital
importância para a
compreensão do Budismo Zen.
“Meditação” no sentido vulgar
de
“pensar bem as
coisas” ou “cismar” é uma
tradução extremamente enganadora.
Porém
alternativas
como “transe” ou concentração
são
ainda piores, dado que sugerem estados de
fascinação hipnótica. A melhor
solução parece residir em deixar dhyana
por traduzir, e inclui-la na
libguagem corrente tal como já se incluíram
Nirvana e
Tao.
A dificuldade em apreciar o
que dhyana
significa reside em que a
estrutura da nossa língua
não nos
permite usar um verbo transitivo sem um sujeito e um complemento
direto. Quando
há “saber”, a
convenção gramatical
exige, a existência de alguém que saiba e de
algo que seja sabido...
Uma vez mais,
portanto, vemos como a convenção, o maya
de medição e descrição
povoa o mundo
com esses fantasmas a que chamamos entidades e coisas. Tão
hipnótico, tão
persuasor é o poder da convenção, que
começamos a encarar esses fantasmas como
realidades, e a fazer deles nossos amores, os nossos ideais, as nossas
prezadas
posses.
Mas o problema, carregado de ansiedade, do que me
sucederá
quando eu morrer é, ao fim e ao cabo, como perguntar o que
sucede ao meu punho
quando eu abro a mão, ou para onde vai meu colo quando eu
levanto...
O ato
existe, não quem
o tenha feito;
Nirvana é, sem
ninguém que o procure;
Há o caminho, mas
não quem o percorra.
O Budismo Zen 1 | O Budismo Zen 2 | O Budismo Zen 3 | O Budismo Zen 4 |